Ômicron deixa seis estados e o DF com ocupação de UTI acima de 80%

Por Br Hoje
27 de janeiro de 2022

O avanço da variante Ômicron já causa uma explosão de casos e internações no Brasil. Números do Observatório Covid-19/Fiocruz atestam que em sete unidades da Federação a ocupação dos leitos de UTI Covid-19 ultrapassa 80%.

O Distrito Federal chegou, nesta terça-feira (25), à ocupação máxima. Além disso, ontem o país registrou o maior número de mortes desde novembro e a maior taxa de transmissão do vírus desde julho de 2020. Para especialistas, o momento é de preocupação e de reavaliar as medidas de prevenção e de restrição de aglomeração.

Sobre a ocupação dos leitos de UTI destinados à doença, os números da Fiocruz mostram que o percentual está acima de 80% no Distrito Federal, Espírito Santo (80%), Goiás (82%), Mato Grosso do Sul (80%), Pernambuco (81%), Piauí (82%) e Rio Grande do Norte (83%). Em São Paulo, é de 65% no estado e de 71% na capital (dados de ontem). No Rio, a situação é um pouco mais preocupante: 62% no estado, mas 96% na capital.

“Não é a mesma situação que tivemos há um ano. Hoje, o número total de leitos é muito menor que em agosto. Além disso, tenho muita fé na vacina, não acredito que vamos reviver o que já vivemos, com pessoas chegando aos hospitais sem respirar, praticamente mortas”, afirmou a pesquisadora Margareth Portela, do Observatório Covid-19/Fiocruz. “Mas não dá para menosprezar que existe um crescimento e que seguimos vivendo como se não houvesse uma pandemia; as pessoas estão tratando isso como se fosse uma ‘gripezinha’, e não é. Precisamos de novas medidas.”

Além disso, o novo Boletim Infogripe Fiocruz mostra que 25 das 27 unidades da Federação apresentam tendência de crescimento de casos de SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave) nas últimas seis semanas. Nas capitais, 23 das 27 apresentam igualmente sinal de crescimento.

“Certamente estamos vivendo uma explosão de casos da Ômicron, e isso já era mais ou menos esperado pelo que acompanhamos no restante do mundo. A variante é dos vírus mais infecciosos de que se tem notícia”, afirmou o presidente da Sociedade Brasileira de Virologia, Flávio Guimarães, pesquisador da UFMG.

“Acho que o momento é de repensarmos algumas estratégias. Não acho que seja necessário um lockdown, mas não é possível seguir com o processo de abertura.”

Transmissão

O Imperial College de Londres, referência em análise da crise sanitária, mostrou nesta terça-feira que a taxa de transmissão (Rt) no Brasil está se expandindo e já é a maior desde julho de 2020: 1,78.

Isso significa que cada 100 pessoas contaminadas infectam outras 178. Na semana passada, esse indicador estava em 1,35 – após os números ficarem quase um mês sem ser calculados, pelo apagão de informações no Ministério da Saúde. Somente quando esse índice fica abaixo de 1 é possível dizer que a doença está arrefecendo; agora, está acelerando.

“É descontrole total”, diz a integrante do Comitê de Combate ao Coronavírus da UFRJ e especialista em gestão em saúde Chrystina Barros. “Nosso modelo matemático baseado exclusivamente na taxa de transmissão indica lockdown, mas isso, por si só, não é suficiente. De qualquer forma, há outras medidas a serem implementadas, como a obrigatoriedade do uso de máscara em espaços abertos, restrição do número de pessoas em locais fechados e também no transporte público. Não dá para cancelar o Carnaval e manter o Maracanã com 50 mil pessoas.”

Risco futuro

Segundo especialistas, a situação atual só não é mais grave por dois motivos. Um é que a Ômicron é aparentemente menos virulenta que suas antecessoras. Outro – sobretudo – é o fato de o vírus agora se espalhar por uma população já amplamente vacinada. Por isso, o número de casos graves e mortes não cresceu na mesma proporção que o número de novas infecções.

A quantidade de pessoas vacinadas com ao menos uma dose contra a Covid-19 no Brasil chegou nesta terça-feira a 163.389.955, o equivalente a 76,06% da população total, e 148,5 milhões receberam a segunda dose ou um imunizante de aplicação única, o que corresponde a 69,15%.

Mas, se a disseminação do vírus se mantiver nessa velocidade, poderá haver sobrecarga nos sistemas de saúde. Existe também o risco do surgimento de uma nova variante.

“A Ômicron prevalece nas vias aéreas superiores, não desce muito para os pulmões. Além disso, a variante é mais suscetível ao interferon, que é uma molécula produzida pelo organismo que ajuda no combate ao vírus. Por isso, ela não causa tantos casos graves e mortes”, explica Flávio Guimarães. “Mas, se não limitarmos a circulação do vírus, os casos graves e as mortes vão aparecer: é uma questão matemática. E, se o vírus continuar se multiplicando de forma descontrolada, novas variantes poderão surgir.”

Fonte: Estadão

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