A greve dos motoristas do transporte coletivo de Teresina completa dez dias nesta quarta-feira (22), e o Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Transportes Rodoviários do Piauí (Sintetro) decidiu seguir com o movimento até que novas propostas sejam feitas. Motoristas alegam falta de pagamento e reajuste.
O cobrador de uma empresa que atua no transporte público da capital, Freitas, afirmou estar a 50 dias sem receber o salário.
“Estou revoltado de estar no meu estado, na minha capital, trabalhando e sabendo que hoje estou sendo tratado como um animal. As contas estão chegando a nossas residências e não temos como pagar. Temos que honrar nossos compromissos, mas como faremos isso? Já que fizemos o nosso trabalho e não recebemos o pagamento?”, contou o profissional.
Os profissionais que atuam nas empresas de ônibus de Teresina passam por uma série de impasses em relação ao repasse do salário e outros direitos. Os valores do Ticket Alimentação e Plano de Saúde foram reduzidos no período da pandemia da Covid-19. Além disso, os motoristas e cobradores também estão tendo dificuldades em negociarem o reajuste salarial por meio de uma convenção.
Segundo o procurador-chefe do Ministério Público do Trabalho (MPT), Edno Moura, os profissionais precisarão enfrentar etapas, para assim reconquistarem os direitos perdidos ou reduzidos na pandemia.
“Os trabalhadores perderam muito desde o ano de 2019. Eles tinham auxílio alimentação de R$ 611 e hoje recebem R$ 170, para vocês terem uma ideia. Então fica complicado avançar nas reivindicações, e eles precisarão ter paciência, já que não é possível reconquistar tudo que foi perdido antes de uma só vez”, explicou o procurador.
Impasses nas negociações
Na terça-feira (21), a Strans anunciou que havia elaborado uma nova proposta para as empresas de ônibus, em que enviaria um subsídio mensal de R$ 3,3 milhões, para ajudar a equilibrar financeiramente o sistema.
A assessora jurídica do Setut, Nayara Morais disse que a proposta foi sido analisada pelos consórcios separadamente, e foi assinada por dois dos quatro. Entretanto, segundo ela, a Strans voltou atrás em cláusulas que já estavam acordadas.
“Existia uma minuta que estava sendo debatida. E houve um consenso no sentido que foi possível ter momento presencial, onde foi recebida minuta já assinada pelo prefeito, Sitt, Setut, lotes 3 e 4 assinaram. Durante esse processo de coleta de assinaturas, os empresários foram surpreendidos com uma nova minuta”, disse Nayara Morais.
Ela afirma ainda que o valor de R$ 3,3 milhões deve ser “um piso, e não um teto”, e que o déficit mensal do sistema seria ainda maior.
Bruno Pessoa, o superintendente da Strans, afirma que a única alteração da proposta foi a de enviar o recurso mensalmente para cada consórcio, dividido entre cada um deles, e não para uma conta controlada pelo Setut. Segundo Bruno, dos quatro consórcios, dois consórcios já haviam aceitado a proposta, um estaria ainda negociando e o último se negou a negociar.
“Eu não entendo porque, se o montando para eles continua o mesmo. Qual o problema de repassar para os consórcios? Temos contrato com eles, não com o Setut”, questionou Bruno Pessoa.
Redução no número de ônibus em circulação
Em 2010, 430 ônibus circulavam em Teresina. Hoje, o número foi reduzido para menos de 160. A queda no número aponta o sucateamento no sistema que tem como dever transportar a população da capital.
O que se sabe e o que falta saber sobre a crise no transporte público de Teresina
Tanto o presidente do Sintetro, Antônio Cardoso, como o superintendente da Strans, Cláudio Pessoa, afirmam que algumas ordens de serviço solicitadas pela Strans não são acatadas pelo Setut, o que prejudica os passageiros.
“A Strans emitiu um número de pedidos para o Setut, que incluiu o pedido de circulação de 225 ônibus, mas somente cerca de 160 rodam na cidade, e alguns só em horário de pico”, informou o líder do Sindicato.
Fonte: G1