Um grupo de manifestantes que se reuniu, no sábado (5), no Centro Histórico de Curitiba, invadiu e interrompeu a missa em uma igreja durante o ato, feito em protesto pelo assassinato do congolês Moïse Kabagambe no Rio de Janeiro.
A presença do grupo na Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos foi gravada, e o vídeo repercutiu nas redes sociais.
De acordo com o Padre Luiz Haas, ele celebrava a missa no momento em que os manifestantes invadiram a igreja.
Nesta segunda-feira (7), a Arquidiocese de Curitiba se manifestou sobre o caso, repudiou o acontecido e disse que na ação do grupo houve “agressividades e ofensas”. De acordo com a arquidiocese, a ação tratou-se de profanação injuriosa, e a “lei e a livre cidadania foram agredidas”.
O caso foi tema de debate na sessão da Câmara Municipal de Curitiba, na manhã desta segunda. O vereador Renato Freitas (PT), que estava participando da manifestação no fim de semana, foi criticado.
Renato argumentou que o protesto não atrapalhou nenhuma celebração religiosa dentro da igreja e que, segundo ele, a manifestação ocorrida foi motivada contra o racismo, a xenofobia e pela valorização da vida.
“As imagens mostram que a igreja estava absolutamente vazia. Já se passava das seis da tarde. Entramos e dissemos que nenhum preceito religioso supera a valorização da vida. Lá dentro, afirmamos isso e saímos ordeira e pacificamente, sem que ninguém tivesse se incomodado e eu desafio qualquer um a provar o contrário”, disse o vereador durante a sessão.
Ainda conforme o parlamentar, o local do ato foi escolhido pela relação histórica que possui com a população negra na cidade: “A Igreja, inaugurada em 1737, foi construída por e para pessoas escravizadas, uma vez que negros e negras não poderiam entrar em outras igrejas de nossa cidade”.
O ato, conforme informado por Renato, foi organizado pelo Coletivo Núcleo Periférico, com participação de representantes do movimento negro, movimento de mulheres e imigrantes que residem em Curitiba e relataram violências racistas.
Antes de Renato, na mesma sessão, o vereador Osias Moraes (Republicanos) disse que a ação do grupo de manifestantes perturbou a fé religiosa de pessoas que se preparavam para uma missa, “com um ato e cunho político”, o que classificou como crime.
“Nós não iremos aceitar esse tipo de ato, principalmente vindo de um vereador desta casa. Queremos providência e vamos tomar providência”, afirmou Moraes.
O presidente da câmara, vereador Tico Kuzma (Pros), falou sobre o assunto durante a sessão e afirmou que a Casa vai acompanhar os desdobramentos e investigar o ocorrido.
“Assim como apoiamos as manifestações pacíficas e nos solidarizamos com vítimas de preconceito e barbárie, apoiamos também a preservação das liberdades individuais e repudiamos violações às liberdades religiosas em locais de culto. Esta casa não se furtará em apurar quaisquer fatos, com a devida isenção”, afirmou.
Em nota, o PT no Paraná diz ter sido surpreendido pela repercussão do protesto teve e afirma não ter participado da “decisão momentânea” do grupo de manifestantes de entrar na igreja.
“Há manipulação de fatos para prejudicar o Partido dos Trabalhadores, pois os vídeos evidenciam que no momento em que os manifestantes estiveram no interior da paróquia, a missa já havia terminado e o templo estava vazio”, afirma a legenda.
O partido reiterou também seu compromisso com o direito à vida e contra qualquer forma de discriminação. “Em tempo, gostaríamos de relembrar que o PT é defensor histórico da liberdade religiosa”.
Celebração
O padre Luiz Haas, de 74 anos, disse que celebrava uma missa no momento em que o grupo invadiu o local e que teve que encerrar a celebração.
“Uma situação insuportável, barulho muito grande, pedimos que abaixassem o som lá fora, saíssem da escadaria. Mas começaram a dizer que era igreja dos negros. Suspendi a missa, porque não tinha como, não era horário para fazer o protesto”, afirmou o padre.
De acordo com o sacerdote, os manifestantes ficaram por cerca de 20 minutos na igreja, com muitos gritos, mas não danificaram nada.
Fonte: G1